Dicas para aproveitar Tiradentes e seu XIII Festival de Gastronomia

TIRADENTES – A cidade de Tiradentes, em Minas Gerais, se prepara para sediar a 13ª edição de seu Festival de Cultura e Gastronomia, entre os próximos dias 20 e 29. Com o tema “Mulheres”, entre as convidadas deste ano estão chefs como a britânica Angela Hartnett, parceira de Gordon Ramsay na série de TV “Hell’s Kitchen”, e a holandesa Margot Janse, chef executiva do restaurante The Tasting Room, que está na lista dos 50 melhores do mundo e fica do hotel Le Quartier Français, na África do Sul. O festival é um ótimo motivo para uma escapada em direção às Minas Gerais, mas não é o único. Ele tem data para acabar, mas os restaurantes, o artesanato, as igrejas e a tranquilidade de Tiradentes, não.

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De carro, são quatro horas de viagem do Rio até Tiradentes. Logo na chegada, as ruas calçadas com pedras, que tornam o trajeto mais lento, já avisam ao visitante que aqui o tempo é outro. Na chegada, na sexta-feira à noite, estique as pernas num passeio descontraído para observar as casas, ladeiras e praças da cidade. Não se espante se ouvir mais de uma vez pelo caminho saudações de “boa noite”, acompanhadas de sorrisos. Nada melhor para se sentir bem-vindo.

Em poucos minutos, chega-se ao aconchegante Tragaluz, restaurante comandado por Zenilca de Navarro, ex-diretora do Grupo Corpo, que funciona num antigo casarão todo restaurado, perto da Igreja Nossa Senhora do Rosário. Aberto há oito anos, o Tragaluz foi um dos primeiros a incluir no cardápio, durante uma edição do festival de gastronomia da cidade, a galinha-d’angola, vista por todos os cantos de Tiradentes em forma de objeto de decoração. E os pratos com a “pintada”, como ela é carinhosamente chamada por Zenilca, estão entre os carros-chefes do restaurante. Entre eles, a galinha cozida no molho escuro com ravióli recheado de abóbora à moda da casa e o risoto de ragu de angola com pupunha, que deve entrar no circuito do festival deste ano.

Outro prato de sucesso é o picadinho de filé mignon, tostado e cozido ao molho escuro e ao vinho com legumes e cogumelos, acompanhado de purê de batata, banana ao melado de rapadura, ovo e enroladinho de couve. No final, há gostosas sobremesas caseiras. A mais nova é a musse de cachaça com sorvete de limão, mas as campeãs de preferência são a goiabada frita, prensada com granulado de castanha de caju e sorvete de queijo, e o doce de leite, servido quente, também com sorvete de queijo, mais fios de queijo e farofa de nozes.

– Meu sonho era abrir um café com uma lojinha para ficar escrevendo cartas, mas virou um restaurante – diz Zenilca, contando como chegou a abrir o café-loja que logo se transformou no Tragaluz.

Da antiga loja, restaram algumas prateleiras, que ainda vendem livros e lembranças. O cardápio, todo desenhado por crianças, é outro item muito procurado. De tanto que os clientes o levavam para casa, a proprietária resolveu cobrar R$ 15 por ele.

– Achei que iriam parar de levar, mas começaram a comprar, e continuei com o trabalho de sempre imprimir novos – diverte-se.

Depois do jantar, para entrar de vez no clima da cidade, por que não uma dose de cachaça? O Emporyum do Barril, um bar todo decorado com garrafas, que funciona atrás de uma pequena porta no Centro Histórico, serve cerca de 120 marcas. Os preços variam entre R$ 3 e R$ 8.

– Minha coleção tem mais de 600 garrafas, que não vendo por nada neste mundo. Ainda é pouco, mas não tenho mais espaço – diz a paulista Maria Ângela Sampaio, dona do estabelecimento, que serve também receitas especiais, como os licores de cachaça.

– Nós também fazemos entrega a domicílio de clientes que exageram na dose da bebida – brinca.

Reserve o sábado para conhecer melhor e saborear a comida da cidade

Para começar bem o sábado, nada melhor que uma boa caminhada pelo Centro Histórico, onde ficam importantes pontos turísticos, como as igrejas da Matriz e de Nossa Senhora do Rosário. É lá também que estão as lojas de artesanato e objetos de decoração que deixam muita gente coçando o bolso.

Uma delas é o ateliê de João Goulart Silva, o Jango, famoso por seus anjos esculpidos em madeira. Recentemente, o artesão resolveu expandir os negócios e abriu, em fevereiro, um restaurante de comida típica que funciona dentro da própria casa. Outro artesão que chama a atenção dos turistas é Nilberto Barbosa, o Bebeto, dono da Oficina de Ourives Santíssima Trindade, parada obrigatória na pracinha principal, por suas grandes flores e pequenos objetos feitos com latas.

Depois das compras, o almoço pode ser na Pousada Villa Paolucci, um pouco afastada do Centro Histórico, próxima ao Chafariz de São José, onde seu dono, o ginecologista Luiz Ney, prepara um famoso leitão à pururuca. Para isso, usa o pururucador, uma grelha inventada por ele que elimina boa parte da gordura. A carne desmancha na boca, e o resultado é realmente mais leve. É preciso fazer reserva. Para a sobremesa, volte ao Centro Histórico, até a loja de Chico Doceiro, um senhor de 79 anos que prepara, junto com o filho, alguns dos melhores canudinhos de doce de leite da cidade.

A cerca de seis quilômetros de Tiradentes, está Vitoriano Veloso, pequeno vilarejo famoso por seu artesanato, e mais conhecido como Bichinho, que faz parte do município de Prados. É lá que fica a Oficina de Agosto, criada pelo paulista Antonio Carlos Bech, o Toti, em 1991. Ex-dono de um antiquário em São Paulo, ele adotou o vilarejo, onde produz objetos de arte com material reciclado, como madeira de demolição. Muitos ex-funcionários abriram suas próprias lojas, e hoje o que mais se vê por lá são casinhas vendendo artesanato.

Na volta para Tiradentes, pare no restaurante Sabor Rural, do chef Cléber Nascimento. Numa chácara, o lugar é famoso por suas chaleiras de limonada e caipirinha – feita com a cachaça que começou a ser produzida no início deste mês, lá mesmo – e pelo trio de petiscos, que o cliente monta na hora. A sugestão de Cléber é uma combinação de torresmo com angu e jiló.

Tiradentes parece ficar ainda mais bonita à noite. Um dos locais que chama a atenção é a imponente Igreja Matriz de Santo Antônio, vista praticamente de qualquer lugar da cidade. Nos fins de semana, os visitantes podem conhecê-la durante o evento “Roteiros narrados”, apresentado às sextas-feiras e aos domingos, às 20h, e aos sábados, às 20h30m. A igreja fica toda apagada, e enquanto uma gravação vai narrando a história da Matriz, luzes são usadas para indicar os pontos de interesse em seu interior, como o órgão do século XVIII, recentemente restaurado. O ingresso custa R$ 10.

Depois, ande até o restaurante Santíssima Gula, comandado pela chef Nancy Souza e sua sócia, Luciléa Cordovil, que aceita reservas para jantar até as 22h, tempo suficiente para digerir o almoço e o lanche. O pequeno salão, em uma casa cercada por um jardim, tem lugar para apenas 30 pessoas e serve receitas refinadas, usando produtos orgânicos, muitos da própria horta. Por isso, o cardápio, dividido em sete menus com entrada, prato principal e sobremesa, está sempre se renovando. A filosofia da casa é curtir a refeição sem pressa, o que não é nenhum sacrifício.

Despedida com queijo e comida mineira

Domingo é dia de botar o pé na estrada para voltar para casa. Aproveite os momentos finais em Tiradentes para passear mais um pouco pelas ruas da cidade e, claro, fazer as compras de última hora. Depois de tantas comidas típicas, doces e cachaças, só faltou provar o queijo. E um dos melhores locais para comer e comprar um bom pedaço é na Pousada Três Portas, onde o proprietário, Paulo André Faria Rohrmann, produz seis tipos, entre eles o minas padrão, o morbier e o tipo parmesão, servidos no café da manhã aos hóspedes e vendidos apenas por lá.

É nessa mesma pousada que funciona o Teatro de Marionetes, comandado pelo titereiro Bernardo Rohrmann e a artista plástica Renata França. Alguns dos “atores” ficam pendurados nas paredes, como parte da decoração, e estão à venda. Os espetáculos normalmente acontecem aos sábados, às 18h, mas é preciso ligar antes para confirmar, já que eles levam as peças para outras cidades.

Depois do passeio, feche a visita com chave de ouro, comendo comida mineira, claro, na Estalagem do Sabor, do chef Vicente Teixeira.

– Trabalhava num hotel, e os hóspedes reclamavam que a comida mineira era muito pesada. Daí tive a ideia de fazer pratos mineiros com menos gordura, mais sequinhos. Meu segredo é botar azeite na comida quando o prato está pronto – conta.

Grande parte das receitas do chef são feitas com produtos da pequena horta e do galinheiro que ficam atrás da casa onde funciona o restaurante – a mesma onde nasceu Teixeira. É de lá que sai a alface, a couve, o ora-pro-nobis, os ovos e as especiarias usados em receitas como o famoso mané sem jaleco, um mexidão de arroz com feijão, couve, bacon, ovos, lombinho, banana e cebola. Outro prato que também faz sucesso é o jiló preguento, uma espécie de sopa de jiló com quiabo, costelinhas de porco e arroz. Sob encomenda, ele também prepara a abóbora real, recheada com carne-seca, queijo, pimenta e arroz de taioba.

Para o Festival de Cultura e Gastronomia em agosto deste ano, Vicente pretende servir uma das novidades de seu cardápio: costelas de adão, fritas e acompanhadas de purê de batata-doce e umbigo de bananeira. O prato, no entanto, é feito apenas sob encomenda.

COMO CHEGAR

De carro: Siga pela BR-040, em direção a Belo Horizonte, até Barbacena. De lá, pegue a BR-265. A distância do Rio a Tiradentes é de 330 quilômetros.

De avião: É possível voar até São João del Rey, a oito quilômetros de Tiradentes, e alugar um carro no aeroporto. Outra opção é voar até Confins, em Belo Horizonte.

De trem: Quem aterrissa em São João del Rey pode ir a Tiradentes num passeio de maria-fumaça. O antigo trem ligando as duas cidades funciona de sexta-feira a domingo e nos feriados. As saídas de São João são às 10h e às 15h, e de Tiradentes, às 13h e às 17h. Confirme os horários pelo tel. (32) 3371-8485.

ONDE FICAR

Pousada Vila Real: Diárias para casal a partir de R$ 160. Rua Antônio Teixeira de Carvalho 127, Centro Histórico. Tel. (32) 3355-1293. www.pousadavillareal.com

Villa Paolucci: Diárias para casal a partir de R$ 398 (mínimo de duas). Para o festival, a pousada trabalha com pacotes de três diárias, a partir de R$ 1.780. Rua do Chafariz s/n. Tel. (32) 3355-1350. www.villapaolucci.com.br

Pequena Tiradentes: Diárias a partir de R$ 590 (casal). Av. Governador Israel Pinheiro 670. Tel. (32) 3355-1262. www.pequenatiradentes.com.br

Pousada Três Portas: Os preços dos queijos variam de R$ 12 a R$ 34. Rua Direita 280 A, Centro Histórico. Diária para o casal (mínimo de duas noites) a partir de R$ 650, com café da manhã incluído. Tel. (32) 3355-1444. www.pousadatresportas.com.br

ONDE COMER

Tragaluz: Funciona segunda, quarta, quinta e sexta-feira, das 19h às 23h. Sábados e domingos das 19h às 24h. Rua Direita 32, Centro Histórico. Tel. (32) 3355-1424. www.tragaluztiradentes.com

Emporyum do Barril: De quinta-feira a domingo, a partir das 10h30m. Rua Antônio Teixeira de Carvalho 119. Tel. (32) 9948-0764.

Santíssima Gula: O restaurante só atende com reservas. Funciona todos os dias, a partir das 13h, para almoço, e das 20h, para jantar. Rua Padre Gaspar 343. Tel. (32) 3355-1162. www.santissimagula.com.br

Estalagem do Sabor: O restaurante funciona de segunda a sexta-feira, das 11h às 16h e das 19h às 21h30m. Aos sábados, abre das 11h às 22h, e aos domingos, das 11h às 17h. Pratos feitos sob encomenda: abóbora real, beliscão e costela de adão (que será servido no festival). Rua Ministro Gabriel Passos 280, Centro Histórico. Tel. (32) 3355-1144.

Villa Paolucci: O leitão é servido nos finais de semana, mas é preciso fazer reserva. Rua do Chafariz s/n. Tel. (32) 3355-1350. www.villapaolucci.com.br

Sabor Rural: De quarta a segunda-feira, das 11h às 19h. Estrada da Caixa d’Água km 4. Tel. (32) 9934-4005.

Loja de Chico Doceiro: Rua Francisco Pereira de Moraes 74, Centro Histórico. Tel. (32) 3355-1900. www.chicodoceiro.tiradentes.net

ONDE COMPRAR

Ateliê de João Goulart Silva: O restaurante funciona de segunda a quinta-feira, das 13h às 16h. Às sextas-feiras, aos sábados e aos domingos das 13h às 22h. O ateliê abre todos os dias, no mesmo local. Rua Direita 32. Tel. (32) 3355-2479

Oficina de Ourives: Funciona todos os dias, das 9h às 17h30m. Largo das Forras 20. Tel. (32) 3355-1208

Oficina de Agosto: Funciona todos os dias, das 9h às 17h. Rua São Sebastião 107, Bichinho, Prados. Tel. (32) 3353-7080. www.oficinadeagosto.com.br

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Luisa Valle viajou a convite da organização do XIII Festival de Cultura e Gastronomia de Tiradentes

Fonte: O Globo